Quando se induz uma criança a seguir uma carreira profissional, seja para se cumprir uma tradição familiar, ou uma preferência de parentes, estamos anulando por completo nessa criança, qualquer senso de iniciativa própria que a mesma poderia um dia, em si, despertar. Abre-se então caminho para a frustração e o conflito pessoal, o sentimento de incapacidade, o sentimento de inferioridade, e aquele futuro adulto não terá vida própria, será apenas uma extensão do desejo de poder, de continuação dos gostos e das vaidades dos seus pais.
Pode ser que num primeiro momento, essa criança ou jovem, não se dê conta, de que foi induzido a seguir um caminho profissional, sem direito a conhecer, antes, outras opções. É claro que, muitas vezes, por não conhecer nada mais além daquilo que lhe é apresentado em casa, desde cedo, acabe por se adaptar, sem questionamentos, e até, passe a gostar da coisa, mas isso jamais poderá ser confundido com vocação. Um soldado fanático, que desde pequeno, aprenda a odiar um inimigo que não conhece, também passa pelo mesmo processo.
Quando se institui prêmio e castigo como método de aferição para alguma coisa, por trás dessa prática, dessa ideia de castigos e recompensas, há nas crianças, um sentimento de ameaça oculta. E o que predomina na mente delas é o medo iminente a estas ameaças. Assim elas cumprem suas obrigações, não pelo prêmio, ou pelo sentimento de que aquilo é a coisa certa a ser feita, mas simplesmente pelo medo da ameaça de castigo, que está oculta, por trás dessa prática horrível de se recompensar qualquer ação.
Deve o descobrir da vocação de uma criança, ser uma das mais importantes preocupações de educadores e pais. Na ânsia de cumprir suas metas na grade escolar, normalmente, os educadores se preocupam mais em encher suas cabeças com o conteúdo dos livros. Do mesmo modo, estes educadores, tentam lhes induzir a seguirem aquilo que preferem, defendendo as qualidades e virtudes dos seus gostos pessoais, ou aquilo que a tradição da família ou do grupo determina, ou o seu conjunto de crenças particulares que elegeram como padrão, para si mesmos.
A juventude é a melhor época para se investigar, questionar qualquer coisa. Uma mente adulta não possui esse interesse, está na maioria das vezes já cristalizada, morta, já se tornou embrutecida, opaca, e nada disso, nada que signifique mudança, é mais do seu interesse. Prefere seguir os outros, sem questionar, e tem na força do hábito, das tradições, seu lugar seguro, do qual jamais pretende se distanciar. Vejam como há em nós uma espécie de conformação, como tocamos nossa vida à espera de um milagre. Estamos sempre no aguardo da chegada de uma onda de mudanças, que vindo de fora, contagie o planeta, e num estalar de dedos, reconfigure o mundo, ao nosso gosto e desejos.
Sabendo disso, pais e educadores, se conseguirem deixar suas próprias limitações e frustrações de lado, devem então ajudar sua crianças, a se tornarem, desde cedo, questionadoras, investigadoras, e não meras repetidoras, como eles, os adultos, já o são. Poderão também, se assim o desejarem, estes mesmos adultos, adotarem para si mesmos o estado de questionadores. Poderão, por exemplo, investigar em si mesmos, por que nosso mundo, a despeito das novas gerações, continua a repetir, na íntegra, a mesma mentalidade dos antigos, com todos os seus velhos problemas, e medos, e frustrações, ou correntes de violência, que ora apenas ganham uma nova indumentária.
Autores: Jon Talber - jontalber@gmail.com Ester de Cartago - estercartago@yahoo.com.br | |
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